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3 Características fundamentais na escolha de forrageiras para equinos

Grande parte dos erros nutricionais cometidos na criação de equinos ocorre pelo fato dos equinos serem tratados equivocadamente como bovinos. Um desses erros ocorre na escolha da forragem a ser pastejada pelos equinos. Em se tratando de pastejo equino, uma forragem de boa qualidade deve ter três características:


  • Ter boa aceitabilidade.

Equinos são animais de paladar mais apurado do que bovinos. Possuem preferências por certas gramíneas, como o tifton 85, coast cross e grama batatais, e rejeitam outras por motivos ainda não bem definidos, como acontece para a maioria das espécies de braquiárias. A aceitabilidade é muito importante, pois não adianta nada ter uma gramínea super nutritiva em abundância se os animais não quiserem pastejá-la.

  • Possuir hábito de crescimento preferencialmente estolonífero.

O hábito de crescimento das forrageiras pode ser: cespitoso, estolonífero ou decumbente. Plantas cespitosas, como Tanzânia, Mombaça e Massai, têm crescimento ereto e formam touceiras. Nas gramíneas de crescimento cespitoso, o meristema apical (“ponto de crescimento”) se localiza mais próximo ao ápice da planta e com o tipo de pastejo rasteiro, característico dos equinos, pode ser arrancado prejudicando a rebrota da planta. Como consequência, a pastagem tende a ficar falhada. Já no caso de plantas estoloníferas, como tifton 85, coast cross, estrelas, grama batatais, que têm crescimento prostrado, o meristema apical se localiza na ponta dos estolões, mais rasteiro, e isso evita que o equino o consuma durante o pastejo. Além disso, há melhor desenvolvimento radicular, pois quando os nós presentes nos estolões tocam ao solo, eles emitem raízes, fixando melhor a planta. O crescimento decumbente é um intermediário entre os dois, pois a planta tem crescimento semiereto e em alguns nós há enraizamento no solo (Rezende et al., 2019).

  • Apresentar baixo teor de oxalato.

Dentre os fatores antinutricionais, o oxalato é atualmente o mais preocupante na nutrição de equinos. O oxalato está presente em diversas gramíneas tropicais e sua ingestão pelos equinos é um fator de grande preocupação, pois essa molécula se liga fortemente a cátions mono ou divalentes, como K+, Nae, principalmente o Ca2+. O cálcio é um dos minerais mais importantes para o organismo, envolvido em inúmeras funções como integridade do esqueleto, contração muscular, regulação da permeabilidade da membrana celular, transmissão de impulsos nervosos, coagulação sanguínea, secreção hormonal e regulação de muitas enzimas (NRC, 2007). Quando há deficiência de Ca na dieta, ocorre liberação de Ca dos ossos para o sangue. A reabsorção óssea ocorre primeiramente nos ossos longos e depois em ossos da face. Em seguida, a matriz óssea é substituída por tecido conjuntivo fibroso de forma irreversível, dando um aspecto abaulado à cabeça (Figura 1). Por isso, a enfermidade recebeu o nome popular de doença da “cara inchada” (osteodistrofia fibrosa ou hiperparatireoidismo nutricional secundário).



Figura 1. À esquerda, égua recém-parida mantida em pastagem de humidícola, com ínicio de sintomas de “cara inchada”. À direita, pônei com “cara inchada” bastante evidente, que consumia gramínea com alto teor de oxalato.

Arquivo pessoal, 2016


A intensa e prolongada reabsorção óssea provoca impactos negativos na integridade do osso e predispõe o animal ao surgimento de problemas no sistema locomotor, como microfraturas e claudicações. Além disso, podem apresentar fadiga precoce durante o exercício, má oclusão dentária e, por fim, a osteodistrofia fibrosa ou hiperparatireoidismo nutricional secundário, principalmente em potros, éguas no final da gestação e em lactação (Rezende et al., 2019).

Os bovinos são mais resistentes às consequências do consumo de oxalato, pois nessa espécie a microbiota localizada no rúmen consegue destruir o complexo oxalato de cálcio e o mineral pode ser absorvido no intestino delgado. Já, nos equinos, a microbiota se encontra no intestino grosso e, mesmo que desfaçam as ligações de oxalato de cálcio, o cálcio não é absorvido no intestino grosso. 

A maioria das gramíneas tropicais utilizadas no Brasil têm altos teores de oxalato, mas, na escolha da gramínea, é mais importante observar a relação entre a concentração de cálcio e oxalato, que deve ser maior que 0,5 para evitar a deficiência de cálcio. Vale lembrar que essa relação pode variar de acordo com o solo, clima e idade da planta, sendo importante realizar análises laboratoriais para saber com exatidão qual a relação Ca:Oxalato. No Quadro 1, estão descritas relações Ca:Oxalato de diversos volumosos que são utilizados na alimentação dos equinos.


Quadro 1. Teor de Cálcio, Oxalato e relação Ca:oxalato de forrageiras.

Forrageira*

Ca

Oxalato

Ca:Oxalato

Humidicula

0,29

2,98

0,09

Buffel

0,44

2,11

0,20

Aruana

0,37

2,16

0,17

Napier

0,71

2,81

0,28

Tanzânia

0,41

1,12

0,36

Capim gordura

0,55

1,05

0,52

Capim vaqueiro

0,46

0,35

1,31

Massai

0,59

0,36

1,63

Coast Cross

0,61

0,35

1,74

Andropogon

0,47

0,18

2,61

Alfafa

1,00

0,18

2,80

Urucloa

0,57

0,18

3,16

Jiggs

0,95

0,18

5,27

Ruziziensis

0,40

0,00

-

Tierra Verde

0,42

0,00

-

Rhodes

0,85

0,00

-

Estrela Africana

0,96

0,00

-


*Destaque em negrito das forrageiras que apresentaram relação Ca: oxalato menor que 0,5.

Fonte: Andrade et al., 2015.

   


Figura 2. Capim elefante (Pennisetum purpureum cv. Napier), muito utilizado nos haras em geral. Mas possui alto teor de oxalato.

Arquivo pessoal, 2014.

 

Referências

ANDRADE; L.C.; REZENDE, A.S.C.; SILVA, R.H.P.; NAVES, J.; MARUCH, S.  Biodisponibilidade gastrointestinal de cálcio em forrageiras utilizadas na alimetação de equídeos em regiões tropicais. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO LATINOAMERICANA DE PRODUÇÃO ANIMAL, 24. Anais... Puerto Varas, Chile. 2015. p. 292.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrients Requirements of horses.  6 ed. rev.Washington, D. C. National Academies Press. 2007.

REZENDE, A. S. C. ; SILVA, R. H. P. ; MOURA, R. S. ; ROQUE, D. Pastagens para equinos: como escolher. Top Marchador, Belo Horizonte - MG, p. 82 - 85, 01 ago. 2019.


Rafael Prado.

Zootecnista, MsC e Dr em Nutrição Animal.

Quer saber mais sobre este assunto acesse: https://www.cmcagro.com.br/cursos/capacitacao/curso-nutricao-de-equinos-line


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